Como criar um índice de preços ou indicador econômico

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Entender como os preços se alteram em um determinado período é interessante para constituir medidas e cálculos a partir disso, como a inflação.

É nesse contexto que o índice de preços atua. Entenda mais sobre como esse índice funciona neste artigo.

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O que é o índice de preços?

O índice de preços nada mais é que a média de preços de determinado grupo de bens e serviços em uma região especifica durante um período. De forma simplificada, é a relação entre a média dos preços no período 1 e a média em um período 2, indicando a variação percentual dos preços ocorridos entre esses tempos.

O índice traz diversas utilidades e realizar a sua apuração é uma grande responsabilidade. A coleta e processamento dos dados devem seguir técnicas e princípios criteriosos em sua elaboração, sobre as quais falaremos mais adiante.

Algumas das utilidades que o índice de preços traz são:

  • Auxílio na política de fixação de preços;
  • Auxílio na fixação dos salários e nos ajustes salariais;
  • Cálculo real da remuneração de aplicações dentro do sistema financeiro;
  • Facilidade nas transações entre agentes econômicos.

Como é produzido o índice de preços?

A obtenção do índice de preços passa por diversas etapas. Ela é iniciada com três tipos de pesquisas e finalizada na etapa de produção, como se observa no esquema abaixo:

Etapas para produzir um índice de preços

Cada pesquisa e cada processo será detalhadamente explicado aqui. Entretanto, para agora, é necessário compreender os seguintes pontos:

  • A POF gera a cesta básica, que é o cadastro de preços dos bens e serviços;
  • A PLC gera o cadastro de locais de compra, que é a relação de estabelecimentos que serão utilizados na pesquisa, aqueles onde o consumidor compra mais frequentemente;
  • A PEPS gera o cadastro de produtos, que é a identificação detalhada dos bens e serviços da cesta segundo suas características, como marca, embalagem, unidade etc.

A criação do índice é dividida entre a fase preparatória e de produção. Essas etapas funcionam da seguinte forma:

  • Preparatória: elaboração de questionário para coleta de preços – os questionários são específicos para cada local de compra, sabendo quais produtos serão encontrados nele – e definição do período de coleta dos preços em cada local – geralmente as coletas são mensais e uma pesquisa dura um ano;
  • Produção: aplicação do questionário, revisão do mesmo e alimentação das matrizes de preços com os dados obtidos naquele período trabalhado – repetindo-se o processo durante todos os meses nos quais durar a pesquisa.

Levando em conta a revisão e análise criteriosa dos dados após a obtenção deles, a produção sistêmica do índice sofre os seguintes processos, em ordem:

  1. Os questionários de coleta de preço são processados;
  2. De volta, sofrem crítica preliminar;
  3. Os dados são processados;
  4. É gerada a série histórica de dois períodos (meses);
  5. São emitidos relatórios de preços médios;
  6. Dados são analisados;
  7. Se estiverem corretos, é realizado o cálculo definitivo, caso contrário, retorna-se à etapa 3;
  8. Feito o relatório mensal do índice de preços.

É importante salientar que o índice de preços ignora o efeito substituição, no qual o consumidor substitui um bem mais caro por outro mais barato, já que leva em conta a variação de preço de um mesmo produto, ignorando a hipótese de o consumidor ter substituído o mesmo por outro por ocasião de queda na renda ou aumento do custo do produto.

Entretanto, é considerada uma aproximação satisfatória se analisada no longo prazo visto que, de acordo com a teoria do efeito substituição, o consumidor ora irá optar por outro produto e ora voltará a optar pelo produto estudado.

A seguir, vamos analisar as etapas da produção do índice de preços de forma detalhada.

A pesquisa de orçamento familiar (POF) para o índice de preços

Antes de tudo, é necessário se questionar e definir quando e como realizar a pesquisa. Dessa maneira, evita-se tendenciosidades nos resultados e desistência dos entrevistados de continuarem o processo durante todo o período definido, o qual já sabemos que geralmente é de um ano.

A POF deve contar com os seguintes passos para que seja realizada de forma satisfatória:

Tamanho da amostra

Seria interessante e satisfatório conseguir realizar uma pesquisa com toda a população. Como a prática desse processo é inviável, é necessário definir o tamanho da amostra por meio de técnicas estatísticas de amostragem, como a amostragem simples ou por cotas, que divide uma população em subpopulações com tamanhos diferentes e espera que as medições variem entre esses diferentes grupos.

Esquema amostral e seleção da amostra

No esquema amostral, divide-se a coleta em quatro etapas sucessivas e distribui-se os entrevistados, os quais chamaremos de unidades de consumo, em oito amostras diferentes. Para facilitar o entendimento, consideremos as etapas em meses e a duração da pesquisa de 1 ano:

  • Unidades de consumo entrevistadas nos quatro trimestres do ano: subamostra 1;
  • Unidades de consumo entrevistadas em dois trimestres diferentes: subamostras 2, 3 e 4;
  • Unidades de consumo entrevistadas em um único trimestre: subamostras 5, 6, 7 e 8.

Realizar essa divisão auxilia na captação de variações do consumo e permite uma análise de inflação. Além do mais, entrevistar mais unidades de consumo no início é uma medida protetora contra a “mortalidade” dos entrevistados. A mortalidade é o impedimento ou a recusa das unidades de consumo de continuarem com as entrevistas nos próximos períodos.

A seleção da amostra deve considerar abranger “toda” a população. Para além de cidadãos que se encontram em suas casas e vivem uma vida aparentemente normal, é necessário considerar pessoas internadas, membros de asilos e presidiários, por exemplo.

Ademais, a distribuição da pesquisa deve corresponder à distribuição demográfica do território. Por exemplo:

  • População = 1000 pessoas;
  • População dividida em 3 zonas;
  • Zona 1: contém 30% da população;
  • Zona 2: contém 20% da população;
  • Zona 3: contém 50% da população.

Dessa maneira, se é desejada uma amostra de 100 elementos, deve-se realizar 30 coletas na primeira região, 20 na segunda e 50 na terceira.

Contato prévio

O estudo realizado para a obtenção de um índice de preços é bastante cansativo. Dessa forma, é necessário realizar um contato prévio com os possíveis entrevistados para explicar a importância do estudo e seu caráter sigiloso.

Essa estratégia permite substituir unidades de consumo não satisfatórias antes do início do processo. Caso haja remuneração pela pesquisa, o contato prévio, que pode ser feito por correspondência ou pessoalmente, também serve para realizar a assinatura do contrato e o estabelecimento de seus termos.

Instrumento de coleta

Algumas características dos entrevistados definem comportamentos de consumo específicos. Logo, é interessante dividi-los em grupos considerando esses atributos. As informações mais relevantes são:

  • Idade e sexo;
  • Naturalidade e nacionalidade;
  • Grau de instrução;
  • Religião;
  • Ocupação e condição profissional;
  • Condição de saúde;
  • Condição de moradia.

Essas perguntas devem ser realizadas durante a pesquisa. As perguntas seguintes devem estar relacionadas aos gastos dos entrevistados e podem compreender:

  • Alimentação: cereais, carnes, laticínios, doces, açúcares etc.;
  • Habitação: aluguel, reparos, impostos, limpeza etc.;
  • Vestuário: roupas, sapatos etc.;
  • Transporte e comunicação: passagens, gasolina, custos de telefonia etc.;
  • Artigos da residência: móveis, utensílios etc.;
  • Saúde: remédios, consultas etc.;
  • Outros gastos: educação, cultura, lazer etc.

A pesquisa pode ser feita por meio de questionários aplicados por entrevistadores ou cadernetas. Os questionários são mais confiáveis, pois o próprio entrevistador realiza as perguntas às unidades de consumo, possibilitando a retirada de dúvidas.

Já no esquema de caderneta, o entrevistado responde às questões sozinho, fazendo com que a pesquisa esteja sujeita a mais erros. Porém, tanto os questionários quanto as cadernetas devem seguir as seguintes qualificações:

  • Perguntas claras e objetivas;
  • Perguntas que verifiquem a consistência de perguntas anteriores;
  • Ser o menos longo possível, contendo apenas informações necessárias;
  • Receitas e despesas relacionadas a um mesmo período;
  • Marca, quantidade, tipo e unidade especificados.

A coleta de dados

A coleta de dados deve ser um trabalho realizado por profissionais qualificados, preparados e que sejam cientes do instrumento de pesquisa que utilizarão. Os entrevistadores devem entender a importância de construir um índice de preços.

Além da preparação dos aplicadores, cuidados devem ser tomados antes da aplicação da pesquisa:

  • Um pré-teste do questionário deve ser realizado com o objetivo de efetuar correções e evitar problemas futuros na realização das perguntas;
  • Realiza-se um mapeamento geográfico antes da coleta;
  • É estabelecido o cronograma de entrevistas.

É preciso lembrar que existe a possibilidade das unidades de consumo se recusarem a participar da entrevista. Caso isso aconteça, o aplicador da pesquisa pode agir de duas maneiras:

  • Caso a recusa ocorra no primeiro período, o entrevistador substitui a unidade de consumo por um vizinho que se enquadra no perfil de entrevistados desejados;
  • Caso a recusa ocorra em outros períodos, o entrevistador substitui a entrevista por outra já realizada por outro participante em sorteio de forma aleatória.

Após todo o processo de coleta, os analistas observam a consistência dos dados, checam informações duvidosas e erros de preenchimentos. Em caso de não aprovação da entrevista, o aplicador retorna ao endereço para reparar os erros. Já se aprovada, a entrevista segue no processo de formulação do índice.

Tabulação e processamento

  • Tabulação: consiste no processo de transcrição e organização dos dados para processamento e leva em conta a caracterização das unidades de consumo, renda e gastos.
  • Processamento: é a sintetização dos dados em informações adequadas para análise e consequente atendimento dos objetivos da pesquisa. Agrega variáveis e divide grupos. As informações dos gastos determinam a cesta e merecem cuidado redobrado.

Determinação da população alvo

É preciso considerar dados obtidos a partir das amostras para definir, de forma precisa, a população que será aceita ou recusada na pesquisa. Por exemplo, se uma pesquisa de mercado destinada apenas às pessoas protestantes for realizada, só se saberá o segmento religioso após a aplicação do questionário, eliminando pessoas de outras religiões dos dados.

A cesta básica de mercadorias

A cesta básica de mercadorias é dividida em categorias e subcategorias que estão inclusas nas anteriores. Dessa forma, o custo de uma categoria é definido pelo somatório dos custos das suas subcategorias.

A categoria inicial é o grupo, que já conhecemos, os quais são: os alimentos, vestuário, transporte etc. O peso de cada grupo é definido pela participação percentual de seu custo no valor total da cesta.

As categorias são:

  • Grupo;
  • Subgrupo;
  • Item;
  • Subitem;
  • Produto;

Para que fique mais claro, vamos à um exemplo: a alcatra é um produto, pertencente ao subitem carne bovina, que por sua vez pertence ao item carnes, a qual está incluso no subgrupo alimentação no domicílio e este faz parte do grupo alimentação.

Percebe-se então que, ao passar por todo o seu processo, a pesquisa de orçamentos familiares (POF) gera a cesta de consumo e segue o seguinte fluxograma:

Processo para construir um indicador econômico.

A pesquisa de locais de compra (PLC) para o índice de preços

A PLC fornece o aglomerado de informações do qual serão extraídas as amostras de estabelecimento por categoria de consumo.

A meta da pesquisa é identificar e selecionar os estabelecimentos mais procurados pelos consumidores para que o índice de preços tenha resultados fidedignos aos reais gostos do consumo.

Os locais selecionados serão os fornecedores dos preços mensais da coleta.

A PLC pode ser realizada junto com a POF, na qual o entrevistado afirma onde e o que comprou. A pesquisa também pode ser feita de forma separada em visita aos domicílios da amostra identificados como característicos da população alvo.

Realizar a PLC e a POF juntas é a opção mais fácil e reduz custos. Entretanto, a pesquisa de forma individual tem como vantagem a montagem de um cadastro atualizado, visto que ela é efetuada logo após a definição da cesta e antes do início da coleta de preços.

A organização do cadastro dos locais é feita a partir da determinação dos lugares onde há mais compras e os agrupa em categorias como supermercados, armazéns, açougues etc.

Para cada produto é necessária a análise de mais de um local de compra. Dessa forma se obtêm uma relação por produto e por ocorrência de compra.

A pesquisa de especificação de produtos e serviços (PEPS) no índice de preços

A PEPS é realizada nos estabelecimentos selecionados a partir da PLC e visa desagregar o subitem, dividindo-o em marcas, tamanhos, embalagens, tipos, sabores, referências, tamanhos, cores, entre outros.

A ideia dessa análise rigorosa é tornar os produtos inconfundíveis para as coletas futuras que serão realizadas ao longo do tempo.

Na PEPS, produtos que são pouco comprados e recorrentes são excluídos da análise. Entretanto, é importante frisar que, caso 30 marcas de um mesmo produto sejam relevantes no mercado, as 30 devem ser estudadas!

Na maioria das pesquisas é necessária a realização da manutenção dos cadastros dos produtos, pois as empresas tendem a trocar as mercadorias, obrigando o consumidor a fazer substituições e forçando os analistas do índice de preço a efetuarem a mudança na cesta.

A substituição de produtos deve ser feita com cautela. É preciso analisar se o novo produto realmente foi bem aceito no mercado, se o consumidor o aderiu como um substituto e se ele é tão relevante quanto o outro. Caso o produto cumpra esses requisitos, ele é um substituto perfeito.

A coleta mensal de preços para o índice

O levantamento de preços deve ser realizado, a cada período/mês, na mesma época, a fim de possibilitar uma análise de variação precisa.

Feita toda a obtenção dos dados, tanto dos consumidores que irão ditar quais produtos devem ser analisados quanto dos locais de compra que irão fornecer os valores reais, os dados são processados. Com isso, obtém-se a evolução média dos preços no período considerado.

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